30/03/2017

Desperdícios de Processo são Sete, não Oito

Desperdício Intelectual

Desperdício – 1. Ato ou efeito de desperdiçar; esbanjamento 2. Ato de gastar em excesso; esbanjamento. 3. Falta de aproveitamento; perda: Desperdício de energia, de calor. 4. O que não se aproveita; refugo, resíduo, resto.

De acordo com o dicionário on-line Michaelis essa é a definição de desperdício. Uma definição bem abrangente.

Jogar comida no lixo é um desperdício. Biscoitos que vêm em um pacote de plástico, dentro de um caixa de papel que, por sua vez é embrulhado com um filme plástico é um desperdício de embalagens. Deixar a torneira aberta enquanto se escova os dentes é um desperdício. Deixar o carro ligado enquanto espera alguém no estacionamento é um desperdício. E não utilizar o capital intelectual da sua equipe é, sem dúvidas, um grande desperdício.

Mas será que ele cabe no pacote junto com os outros Sete Desperdícios?

Quando comecei a trabalhar com Lean, no início dos anos 2000, não se falava em oito desperdícios. Os desperdícios eram Sete: Estoques, Excesso de Produção, Espera, Transporte de Material, Movimentação de Pessoas, Processos Desnecessários e Defeitos.

Mas em algum momento, começou a aparecer, ainda de maneira tímida, um oitavo desperdício. Ele foi se aproximando dos demais, insistindo em ficar. E acabou que, em alguns lugares, foi acolhido.

Mas, apesar de acolhido, ele ainda destoa. Quando olhamos a definição de desperdícios dentro do conceito do Lean, ele não se encaixa muito bem.

“Desperdícios são elementos ou atividades do processo que apenas adicionam custo e/ou tempo a ele.
Os desperdícios são um sintoma, não a causa-raiz, portanto não podemos atuar diretamente nele, temos que achar sua causa-raiz para eliminá-lo ou minimizá-lo.”

Por essa definição de desperdício, oitavo desperdício não deveria estar junto nesse pacote.

Estamos falando de desperdícios no processo

Todos os sete desperdícios são elementos do processo. Excesso de Produção é gerado no processo. Espera é gerada no processo. Defeitos são gerados no processo.

Não utilizar a capacidade/ criatividade das pessoas, não é um elemento de processo e nem é gerada por ele.

É algo que circunda tudo isso. É um problema de gestão, não de processo.

Desperdícios são um sintoma, não a causa-raiz

Esse é um ponto fundamental sobre desperdícios: eles são um sintoma, por isso é necessário determinar e atuar na causa-raiz deles para eliminá-lo. Não podemos atuar sobre o desperdício em si.

Transporte de Material é um desperdício, mas eu não posso simplesmente não fazê-lo, o meu processo pararia. É necessário atuar nas causas desse transporte – por exemplo, um layout ruim – e resolvê-la para obter resultados.

Novamente, essa definição não se aplica à não utilizar bem o capital intelectual das pessoas. Ele é, em si, a causa-raiz. Conseguimos atuar diretamente nele.
Se eu quero começar a utilizar as pessoas para gerir, enxergar e eliminar desperdícios é só começar. De maneira menos estruturada inicialmente, mas o que efetivamente impede uma empresa de começar a capacitar e gerir as pessoas para que elas enxerguem e eliminem desperdícios no processo?

Não utilizar o capital intelectual das pessoas é, sem dúvidas, um desperdício. Não ensinar e gerir as pessoas para que elas enxerguem desperdícios e os eliminem é uma perda de tempo e agrava os sete desperdícios.

Mas esse é um desperdício de gestão, não de processo. Ele é um desperdício tão grave quanto não saber enxergar tendências em um gráfico, não saber fazer uma análise de causa-raiz, não estabelecer KPIs do processo, não fazer um desdobramento de metas e não posicionar as pessoas certas no lugar certo, apenas para citar outros desperdícios. Mas talvez eles devessem estar em um pacote só deles: o dos desperdícios de gestão.


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