Em “O Desafio do Lean em Empresas Engineer-To-Order (ETO)” explorei o desafio de se criar novas ferramentas para construir um Processo Lean dentro de uma Empresa ETO. Mas será que sempre temos que criar novas ferramentas? Quando uma Ferramenta Lean já existente pode ser utilizada em uma Empresa ETO?
Gostaria de compartilhar dois Cases onde fizemos o uso de supermercado dentro desse tipo de empresa.

Produtos especiais não ficam em prateleiras. Se você quiser comprar para a sua casa um portão sob medida, com um desenho e material definidos terá que encomendar a um serralheiro. Esse tipo de produto não é encontrado em lojas de material de construção, certo?

Portanto não é possível construir um supermercado de produto acabado dentro de uma empresa onde os produtos são feitos sob encomenda, pois eles serão únicos, feitos para um cliente específico. Mas o supermercado pode ser aplicado a etapas anteriores de seu processo.

Case #1: Supermercado de Matéria-Prima

O Case #1 aconteceu em uma empresa metalúrgica que fabrica grandes componentes de metal. A matéria-prima de seus produtos são chapas de aço e essas chapas eram compradas e dedicadas a cada projeto. Essa lógica visava um melhor controle do custeio do projeto e garantia a quantidade de matéria-prima calculada para finalizar o projeto.

Mas do ponto de vista de operações a lógica era prejudicial. Apesar de várias chapas de aço terem o mesmo comprimento e espessura elas eram dedicadas aos projetos. Algumas vezes a chapa para um projeto específico estava armazenada em um local de difícil acesso ou ela ainda não estava na fábrica e não era permitido o uso de chapas de outros projetos.

Analisando a variedade de chapas concluímos que havia uma gama grande de chapas comuns para os projetos (cerca de 70%). Era possível então trabalhar com um supermercado de chapas para suprir a fábrica.

O supermercado foi implantado resultando em agilidade para o uso das chapas além da redução dos níveis de estoque, já que foi possível alinhar as características do supermercado à política de compras da empresa.

Case #2: Supermercado de Produto em Processo

No Case #1, após a primeira etapa da produção a peça já tinha características de seu produto final, portanto não era possível estabelecer um supermercado de estoque em processo.

Mas em uma grande empresa de cerâmicas especiais isso foi possível, nosso Case #2. O processo produtivo era relativamente simples: as matérias-prima eram compostos cerâmicos e argilas, eles tinham uma etapa de mistura desses compostos e argilas com diferentes receitas, dependendo das características finais do produto. Essa mistura era prensada em fôrmas e depois passava por fornos para chegar ao produto final.

Após também colocar em funcionamento um supermercado de matéria-prima, estudamos a demanda das misturas (estoque em processo) e percebemos que poucas delas eram comuns para vários produtos finais.

Calculamos e colamos em funcionamento um supermercado de misturas. Essas eram consumidas pelas prensas e fornos, o que disparava a produção de mais mistura, consumindo assim matéria-prima e disparando a compra de matéria-prima.

VSM representando o funcionamento dos Supermercados de Matéria-Prima e Estoque em Processo

O supermercado, nesse caso, deu agilidade ao processo. Uma vez que o design do produto final era definido, esse produto já estava na metade do caminho na fábrica. O tempo de conversão para produto acabado reduziu bastante, fazendo com que a empresa tornasse sua entrega mais rápida, o que era um grande fator competitivo.

Portanto, existem situações em que é possível o uso de supermercado em empresas Engineering-To-Order (ETO), tudo depende das características do processo. O uso do supermercado pode trazer um melhor nível de atendimento para fábrica e agilidade para finalizar o produto. Em geral, esses são fatores competitivos fundamentais para qualquer negócio.

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